24.9.05

if I was no longer queen
(parte II)

__Ou talvez tivesse apenas acordado, pensou ela. O fato é que, fora do trono, já não era mais o centro. Nem das atenções, nem das censuras. Continuava deitada, a nova perspectiva a deixara no início de tudo e não podia se mover, pois não sabia começar. Ver mais que apenas uma platéia esperando seus deslizes a ensurdecia e, aos poucos, sentia-se começar uma sabotagem de sua própria respiração. Depois de tanto tempo como reflexo dos outros, não queria nem o ar que lhes valia. E assim foi entrar num estado que podia ser qualquer coisa, menos consciente. Sentia um abalo, que emanava de um centro e terminava nos pulsos. Sentia, pela primeira vez, cada batida do músculo em seu peito oco. E sentia dor. Ela... ela sentia.
__Mas quão incômodo era sentir... de repente, tinha um universo dentro de si, mais precisamente, parecia ter um mundo na garganta. E toda a amargura do sentir confundia a recém-descoberta parte doce de ser. Talvez a vida fosse mais fácil quando tudo se resumia a reclinar a cabeça e sorrir. Definitivamente, era bem mais fácil, só não era vida. A possibilidade de remendos e de uma volta à sua sobrevida era totalmente afastada quando sentia o líquido quente pulsar nas pontas os dedos. No mais intenso sentido da palavra, deliciava-se na própria consternação.
__Sentou-se, então, e ficou mais um tempo voltando-se para dentro a olhar seus joelhos feridos. Eram as marcas da queda, o físico daquilo tudo. Decidiu que ali também não era o seu lugar... não no chão. Que fosse caminho, mas nunca destino. Apertou as mãos nos olhos como se isso pudesse segurar toda lágrima que insistia em cair. Começava a se afogar no desespero de descobrir como ser sem descobrir o que ser.


(continua... de novo).
(hihihi, nem ligo se to enrolando).
(a próxima vai ser pequenininha).

20.9.05

if I was no longer queen.

Fazia tempo que sentira o gosto de estar no centro. O sabor doce e breve de todas as atenções a espreitar, esperar seu próximo passo, seu próximo jogo, sua próxima queda. E, nesse tempo, desconfortável no trono imaginário, conversava horas a fio com todos que nunca escutariam por estarem deveras preocupados em gritar seriedades. E que fossem secos, não importa, gritavam. Gritavam a assustar o silêncio. O silêncio sempre fora sua música preferida, de leveza insuportável. No espaço branco e taciturno, encaixava pequenas melodias de sonhos, que não caberiam em pautas desse reino ou de qualquer outro.

Ah, mas essas últimas horas. Mas essas últimas horas mudavam o compasso, pediam mais espaço. Os braços do sólio não mais eram apoios, faziam-se em clausura. O ar vazio cansava-se de preencher os espaços antes de chegar aos pulmões. E, pela primeira vez, ela experimentou a travessia por cima da lâmina que corta o que amamos do que odiamos. E odiou, e odiou, e odiou. O vazio, e o branco, e a falta, e o silêncio. E odiou seu trono, seu reino, seu título, seu centro. Levantou-se e maldisse o sangue, o sobrenome. Rasgou o vestido real, atirou fora a coroa. Desceu da solenidade pelos degraus à frente de seu assento e tropeçou nos próprios pés.

Ainda no chão, ponderava... e se simplesmente não levantasse? Se sumisse no rasteiro e nunca mais tivesse que ser vista, esperada. Se não tivesse que se levar a sério, se não mais condissesse ao que sempre fora, se nunca correspondesse ao que dela esperavam... Semi-acordada, reabriu sua fábrica de sonhos.


(continua...)

19.9.05

Mesmo com a certeza de que isso vai cair em desleixo num futuro próximo, abro e começo.
Risco, rabisco e arrisco. Faço o que for, só me recuso a ficar calada. Silêncio me parece impossível de tão fácil, insuportável de tão cômodo. Gosto da pausa do calar, odeio sua continuação. Antes muito do que arrependida, prefiro parecer ridí­cula a não parecer. E prefiro ser demais a não ser.

Isso pode ser um começo sem fim, talvez sem meio, mas não dá pra saber sem tentar.
Dia desses, me deu aquela vontade de falar.

Bem-vindo ao circo,
sinta-se à vontade,
não faça silêncio
e nunca feche a porta ao sair.