28.2.10

Se eu tivesse papel de cartas.

Minha querida e melhor amiga,


Sei que tudo está fora do lugar desde você deixou de encontrar aquele olhar que sempre caía no seu. É, assim, um pequeno equilíbrio quebrado... como quando a gente coloca a xícara um pouquinho fora do lugar no pires e nada mais é como antes. Tudo é mais complicado quando uma pilha de roupas do lado da cama é mais que um amontoado de pano. Fica bem difícil quando a pia se enche de louças, coisas não ditas e coisas que nunca se queria ter dito.

Quero que esses teus olhos fundos não apontem mais para baixo. Olha, pequena, não é porque eles são cor de água que você tem que viver chorando. E se o teu peito dói, enche de sonhos... vai passar.

Se eu tivesse papéis de carta, escreveria mil trezentas e vinte e sete linhas em folhas desenhadas, pra tua casa ser só perfume e colorido. Ou podia pedir ajuda de alguns moços mais espertos que eu, cheios de números em calculadoras, pra inventar um abraço eterno, que envolvesse o seu coração toda vez que ele pensasse em doer. Toda vez que você pensasse em doer.

Toma esse aqui esse guarda-chuva lilás. E, quando você não precisar mais dele, pode vir trocar por um passeio de mãos dadas. Não tem prazo, não. Ainda que todo o resto pareça tão perene...




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