4.1.15

a noite do ano.

faz cinco anos que isso começou a acontecer sem a gente se dar conta. uns encontros em corredores e salas mudas que ninguém poderia reparar. você não sabe, mas eu ainda lembro de um dia que você me olhou e me olhou de novo. e a vida foi correndo pelos dias e cidades enquanto fomos dois em direções opostas. mas volta e meia tinha um assunto seu. e acho que devia ter o meu também. e assim fomos nos desconhecendo à distância.
eu fiquei por aqui em um grande amor impossível, que é tudo que eu gosto de fazer nessa vida. fui contando dias felizes e esquecendo os que não foram até não conseguir mais varrer as horas cinza pra debaixo do tapete. abri a porta e me assustei um pouco com tanto amor líquido do lado de fora. apaguei um tanto de mim e comecei a redesenhar meus contornos. te contei daquele cara que colocou meus pés no chão? ele chegou aqui antes e depois de você e me tirou o sono e a singularidade. estava andando por aqui tentando entender como me encaixar no ordinário em que me colocaram. contando meus grãozinhos de areia.
no intervalo entre nós, eu fui plural e você sem par. acho que você dormia, acordava, dirigia e dormia - mas não sei bem essa ordem. a saudade habitava as frestas de tempo que sobravam e também sua vontade de ser pai. você queria se plantar em alguém pra não se perder de si mesmo. eu também tento não me perder olhando bem fundo nos olhos dos outros.
num dia vermelho, você estava ali onde já fui, mas tão diferente do que fui por lá. depois me chamou pra perto da janela de onde me arremessou pro ano-que-vem. e agora, feliz 2015.


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