15.3.08

FIM.

Chovia no dia em que percebeu: sua vida não era feita de finais felizes, apenas de finais. Choveu dos olhos para fora ao lembrar da dormência. E desejou não ter o peito para lembrá-la de sua escolha. Desejou, como há tanto tempo não fazia, ser vazia e sem pulsos.

Não havia como entender. Como aquilo, que antes a fazia respirar, agora oprimia o peito com tanta violência..? A ponto de seus doze pares de costelas serem novamente batizados por substantivos presentes em diversos graus entre "mágoa" e "raiva".

O chumbo da tristeza era palpável e pesava em seus pulmões. Seu rosto, antes enfeitado com broches de sorriso, era hoje infectado por um cinza eterno. Todas as palavras antes proferidas por dois caíam como granizo afiado em suas costas, marcando em sua pele cortes finos e profundos. Não havia mais lugar para asas.

E, enquanto olhava para trás, percebeu que o fazia sozinha. Procurou ao seu lado e só encontrou resquícios do que ela mesma havia sido. Pois, fora isso, não havia mais nada. Sua inútil disposição em acreditar deu-lhe uma bofetada no rosto e atirou-a no chão. As mãos trêmulas e mal acostumadas ao vazio buscaram retalhos e uma agulha. Enquanto a cabeça latejante gritava verdades, o músculo ainda desperto no peito preferia assistir os dedos e braços sendo perfurados. Recusava-se a ajudar os olhos a se abrirem.

Ela já sabe que o quarto está vazio.
Just say the words.