12.4.12

tenho em mim todas as culpas do mundo.

Sê Pessoa, disse a mim. Sê Álvaro e Ricardo. E carreguei todos os sonhos do mundo. E em mim, todos os sonhos de todo mundo. Nessas costas magras de ex-bailarina, nestas costas desiguais. 
    Os namoradinhos de cidade do interior se empoleiravam debaixo da lona vermelha-marrom de poeira grossa. Era dia da menina bailarina com asas de sonhos nas costas, costuradas com a dedicação da Lua Virginiana. Essa Lua que lhe combateu desde o primeiro brilho nos olhos, ela desceu de seu céu de exatidão só para costurar as tais asas, que bonito, não?
    Você pensa que é bonito. Se conhecesse essa senhora como eu conheço, iria entender o que quer dizer. Costurou-lhe asas com os sonhos. Ponto de cruz, ponto invisível, ponto flutuante e ponto.
Sê inteira, sê ao cubo. E carreguei os sonhos dos patriarcas, dos amigos cuspidos no asfalto, dos filhos não nascidos, do amor absurdo. 


Carreguei tantos eu-queros, carreguei você também. E todas as suas culpas de olhos grandes de cachorro manso e constipado nos ombros. E todas as culpas suas e minhas e deles, e todos os suspiros frustrados e todos os prantos nos travesseiros e todos os gritos sufocados em cada esquina. 


Tenho em mim, Fernando, todas as culpas do mundo.
E carreguei você também.