25.10.11

Na próxima, por favor.

Escuta, você já perdeu o ponto no ônibus? Eu perco quase todo dia. É que a minha cabeça não é daquelas que pensa e despensa, ela vai pipocando ideias em formato de bolha de sabão. A danada sai flutuando por aí e não há Cristo que a consiga deter. Bolha de sabão, sabe como é, né? Ela estoura quando bem entende e aí lá vem o hoje me puxando pelos tornozelos. [baque no chão]

Pois bem, isto é outro assunto. Queria mesmo falar do exato momento em que você percebe que perdeu o ponto de ônibus. Levanta a cabeça, os olhos tateiam o cenário para todos os lados buscando alguma familiaridade em forma de rua ou parede, mas nada. Aí vêm os segundos de pânico, em que você não consegue decidir se o melhor é parar ali mesmo, não importa onde, ou esperar atéééé...

Outro dia, perdi o ponto e não contei a ninguém. Quando o grito escapou urgente da garganta, o moço me olhou estranho: "Mas aqui, menina? Não acha perigoso descer assim, na estrada, no meio do nada?". Desci grata pela cordialidade, esse recurso que rareia nas horas em que o erro foi seu.

Eu não posso ficar no ônibus porque não sei como é o ponto final, nunca vi a cara dele. Não sei se ia gostar dos cortornos, se ia querer tirar uma foto. Na verdade, não sei sequer se ele é melhor ou pior do que qualquer ponto de antes.

Dia-sim-outro-também, na hora em que as coisas acontecem, as bolhas de sabão vão batendo umas nas outras assim: não-sei-não-sei-não-sei. Essa hora em que você deveria dar todas as respostas e fica cheio de palavras rarefeitas. Depois, enquanto corria na estrada com todos os carros na direção oposta, plic, plic, plic as bolhas e eu já sabia: perigoso, moço, é ficar aqui esperando pra ver como é esse tal ponto final.

E continuei correndo. Tem outra coisa vindo atrás.

5.10.11

A roupa do avesso.



Se eu vestir a roupa do avesso,
não cortar as etiquetas,
se eu assistir novelas
e perder a mania de estalar os dedos

Se eu tiver menos rompantes,
controlar a impulsividade,
pintar as unhas só de branco,
quiser morar nessa cidade

Se eu não for obcecada por banho,
gostar de mim sem maquiagem
souber lidar com elogios
e passar a vestir roupa dentro de casa

Se eu não falar tão alto,
não criticar as coisas
não planejar por nós
e não ligar pra bagunça na gaveta

Se eu compreender cada vírgula
e não esperar mais cumplicidade

Se eu gostar dos hiatos de beijo
Se eu não ligar pra falta de saudade

Se eu entender de uma vez,
Que se é função condicional
e eu número real.

E eu vestindo a roupa do avesso...?
Ou! É avesso, n'é começo.