12.3.12

lumiar.

Queria ser o sinal de trânsito: resolver quando as pessoas podem ir e quanto tempo têm que ficar. Decidir quando é pra parar ou continuar. Quando é pra esperar, pra acelerar. E ser assim, simplesmente inteligível de vermelho e verde, pisca pra cima, pisca pra baixo e todo mundo entende. Sem entrelinhas de ruído, sem silêncio incompreensivo.

Não que eu queira mandar o tempo todo em carros, velhinhos e bicicletas - ou você - mas quem iria negar ao sinal o direito de se envaidecer? É dessas coisas de encher a cabeça do sujeito. Talvez por isso ele suba nos fios para longe do encontro das esquinas sem falar com ninguém.

Desculpe lá a intromissão, mas é muito solitária mesmo a sua vida, seu semáforo (já posso te chamar de sinal?). Esse reino de gente comandada pela sua vontade não te vê e só te olha, nem pensa em te escutar. Não importa quão alto ou brilhante, é parte do cenário, mescla cinza de paisagem. Depois me escreva suas vantagens de ser invisível. É que estou achando triste mesmo essa vida de silêncio todos os dias, enquanto tudo no mundo passa pra não voltar. E, se volta, é pra não ficar.

Não queria julgar você, de novo, desculpe. Pensando bem, sinaleiro, o senhor é o que está mais certo por aqui: entendeu que a maior parte de tudo é passagem. Isso é sabedoria do bom observador silente que aprende com os caminhos dos outros o que não pôde experimentar.