3.2.15

o meu retrato.

"essa foto não é sua", disse três vezes. e quem lhe conferiu tal autoridade? pergunto quem lhe conferiu esse peso de cada palavra que me destrói pedaço a pedaço, pro bem ou pro mal. quem lhe permitiu esse poder sobre meu corpo, esse peso nos meus ombros? qual poder supremo olhou no teu olho de cílios limpos e disse: 'olhe, vá ressignificar músicas que ela gosta'? quem lhe instigou o vinho, quem lhe fez se derramar sobre meus poros. quem quer que tenha sadicamente lhe colocado de contratempo nesse meu caminho manso merece um castigo que não sei qual é. talvez um você, desse jeito dolorido, enlouquecedor e apavorante. mas pra ele. ou ela.
ou ela. ela é outra peça de tudo o que hoje me enfraquece e eu nem sabia que existia. uma poça de lama reluzente que te hipnotiza cada vez que você chega perto. foram duas vezes que eu vi o encanto acontecer. meus dois anoiteceres diurnos. no que achei que era meu, foi lá e fez igual. ou melhor, ou pior. não sei, não entendo do assunto de vocês. sei que você quando elogiou meu colar, tinha lembrado de outro e tudo isso tira o valor de um segundo por segundo. acho que vou desachando tudo que achei em ladrilhos na frente da igrejinha quando falamos de eternidades absurdas. 
o que fui lá, não sou aqui. quando fui outra, voltei na estrada sonhando contornos de romance adolescente. macabéa que sai da cartomante. a vida-hoje desenhada esvaindo em cada linha trocada, em cada lembrança de presença acompanhada. essa é a vez da palavra difícil. felicidade antes do atropelamento. vou gastar meus segundos devagar. aqui jaz minha efeméride. 

[2015] a efemeridade do amor líquido.