27.11.11

a manhã sua,

Poderiam imaginar que se trata de preguiça ou de uma estranha mania de se espreguiçar excessivamente ao acordar. A verdade é que naquela hora em que a manhã vem me despir do sono, já não sei mais o que sou eu separado de você. Onde começa o meu corpo e terminam os seus braços.

A verdade é essa, mas não só. Outra parte dela é que quando vem de novo a manhã pra nos despir dos sonhos, já estamos neles tão submersos que preferimos puxá-los pelo acordar adentro. De mãos dadas pelas ruas cinza, envoltos em reflexos amarelos. De amarelo em amarelo, no vermelho do meu rosto varrido pelos seus cílios incautos que revolteiam nessa pele manchada.

E cada manchinha do nariz reconhecida pelo canto da sua boca, e cada parte encaixada como peças de uma só caixa, e cada pé encostado na ponta da cama, e cada ferida cuidada, e cada dia terminado, e cada risada dividida no rastro do olhar... e cada um, cada dois, cada não-despertar de cada dia... a manhã sua, amanheceu.