12.9.12

Do que fomos, levo comigo

uma quase gastrite,
o álbum "pouco", do moska,
um beijo na ponte,
algumas horas no telhado em um feriado de abril,
uma surpresa na escada do primeiro ano,
um teste que deu negativo,
o suor de onze horas seco na pele,
misturar leite condensado cru com nescau,
um pedido de casamento negado,
uma parede pintada de rastros do que não vimos chegar,
uma ferida no pescoço,
a tatuagem cicatrizada no teu braço,
a descoberta de que posso conviver com paredes tortas,
o fantasma de uma louca descabelada,
a primeira vez que cortei o cabelo de alguém,
(e mais uma coleção de estreias),
a habilidade de conversar sem sons,
a frustração de quase nenhuma canção,

e a certeza do que não aguento nas costas.



13.8.12

picture perfect.

you said you'd love me no matter what,
but would you love me as different person?
for that's how I feel now and I can't help
I'm just a complete stranger, even to myself

not sure of what happened along the way,
not sure if I'm mad, have I lost my head?
maybe I'm just too heavy, just too small
just too tomorrow to remember yesterday
and its promisses, and its promisses.

in my dreams, it's easy, you see
there's this picture perfect frame
of anything, of you and me
but with open eyes, all foggy skies
and I just don't know
am I supposed to jump now
or have I jumped already?

I pray to God you won't let me fall
and he tells me tales about nightmares
and it calms me, so much pain out there
I pray to God, if you let me fall,
that he doesn't let me hurt as much
cause I certainly couldn't take it
not again, not able to sit and wait
to bleed through another 2008.

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Dan: I love you. 

Alice: Where? 


Dan: What? 


Alice:  Show me, where is this love? I can't see it. I can't touch it. I can't feel it. I can't hear it. I can hear some words, but I can't do anything with your easy words. Whatever you say, it's too late.

5.6.12

o que se pensa no chuveiro. (ou 'eu hoje te desejo' )

Uma vez te desejei nada
Além do melhor de tudo
Todos os tipos de sorriso
Risadas e pipoca, vento nos lábios,
longas sonecas em dia chuvoso,
e sol por dentro, a gente precisa.

Hoje foi bastante diferente,
Tudo mudado pelos silêncios
Apodrecido nas faltas impunes

Então, eu estava no chuveiro
Adormecida na água morna
Mas com pulmão furioso
Eu estava no chuveiro
Cuspi e te amaldiçoei
E desejei o pior castigo
Te desejei meu coração

Desejei tudo o que te vem
Por carregar no peito essa chaga
Com que nasci em despropósito
Toda a coleção de bibelôs cruéis
Uma noite sem sono, só pranto,
Um dia vazio de pura espera,
Uma falta de coragem
E principalmente o ódio
Da própria chaga aberta,
Dona de todas as dores do mundo.





24.5.12

tropecinho.


Era terça-feira quando nos sentamos no frio da cozinha e aquecemos tomando sopa com colher de sobremesa. Você não sabe e nem meus olhos poderiam te segredar o desespero do grito paralisado na garganta desse dia. Meus ossos continuavam pressionados contra cadeira, mas meu peito se debatia contra a pele para fugir. Nada me denunciava porque pairava a serenidade da colher afundando vagarosamente na cumbuca. E eu era a serenidade, atriz.

Levei as mãos à boca num susto de menina quando você apontou o nariz pra baixo olhando o que sobrou no prato. E ali fiquei, exasperada, ferida, apavorada. Recebi um amigo adolescente que tem me feito companhia quando sento em meus silêncios. Ando pela rua acompanhada desse medo louco de ter me apaixonado por você. Mais uma vez.

17.5.12

São duas da tarde.

São duas da tarde e a morte se sentou ao meu lado.

 Posso sentir sua respiração em meu pescoço, porque o ar é rarefeito. Tenho dois pulmões vazios e um coração inútil agora que a morte está sentada ao meu lado. Tenho fios de lágrimas no lugar de longos cabelos, tenho moedas antigas formando meu diafragma e por isso não respiro, para preservar o passado. Por isso não respiro. Esqueci o movimento meu e os pedestres em volta. As vozes, não as ouço. Não consigo ouvir som que haja agora que a morte está sentada ao meu lado. Tenho arame chiando pelo corpo, tenho ganchos pendurando-me pelas costas no teto, tenho cimento no útero e enxofre na língua, agora que a morte está sentada ao meu lado. Sou cadáver temporário, com a alma espalhada em versos, espalhados em conexões anônimas, esperando que a visita vá embora para voltar sem ameaças.

Agora que a morte está sentada ao meu lado, não tenho medo nem alma.


Diário das vísceras.


 Último reporte. Meu estômago acaba de engolir meu coração e agora espuma raivoso o veneno na boca. Contaminado, imundo, rasgado e cicatrizado, e não cicatrizado, musculozinho escroto. Virou-se ao contrário e despeja sangue por todas as partes. A garganta está com medo. Um terror contrai seus lados e tenta conter o caos do lado de dentro. Não é possível vomitar o oceano. Não é possível vomitar o oceano sem morrer afogado na ressaca.

Perdão, era o penúltimo reporte. Agora a cabeça se enche de gás de cozinha e flutua querendo arrancar-se do pescoço, esse único vínculo que a prende ao peito. Cano de esgoto. Tremem os dedos, as pernas, e o peito em grito contido. Urros ecoando entre as orelhas e quadris que deixam de existir no descompasso dos passos. Meus braços perderam os ligamentos ou não me obedecem mais, meus pulsos se romperam sozinhos.

Não é possível vomitar o oceano sem morrer afogado na ressaca. 



16.5.12

Monostrófico estrambótico.

(Se fosse um soneto).

Os teus silêncios cegam
Enchem de vazio palavras de depois
Enchem de dúvidas e passos
Enchem de vontade de nada
Aparam aquelas arestas passionais
Sentimento arisco se esconde no concreto
Dos muros que guardam as horas insones
Da insônia dos olhos de chumbo pregado
Dos cílios e de sua umidade secreta
Guardada nos tais muros distantes
A salvo da voz que não chama
E por não chamar já proclama
Não perecer, não pertencer

Please, don’t be long,
Please, don’t you be very long,
Please, don’t belong

12.4.12

tenho em mim todas as culpas do mundo.

Sê Pessoa, disse a mim. Sê Álvaro e Ricardo. E carreguei todos os sonhos do mundo. E em mim, todos os sonhos de todo mundo. Nessas costas magras de ex-bailarina, nestas costas desiguais. 
    Os namoradinhos de cidade do interior se empoleiravam debaixo da lona vermelha-marrom de poeira grossa. Era dia da menina bailarina com asas de sonhos nas costas, costuradas com a dedicação da Lua Virginiana. Essa Lua que lhe combateu desde o primeiro brilho nos olhos, ela desceu de seu céu de exatidão só para costurar as tais asas, que bonito, não?
    Você pensa que é bonito. Se conhecesse essa senhora como eu conheço, iria entender o que quer dizer. Costurou-lhe asas com os sonhos. Ponto de cruz, ponto invisível, ponto flutuante e ponto.
Sê inteira, sê ao cubo. E carreguei os sonhos dos patriarcas, dos amigos cuspidos no asfalto, dos filhos não nascidos, do amor absurdo. 


Carreguei tantos eu-queros, carreguei você também. E todas as suas culpas de olhos grandes de cachorro manso e constipado nos ombros. E todas as culpas suas e minhas e deles, e todos os suspiros frustrados e todos os prantos nos travesseiros e todos os gritos sufocados em cada esquina. 


Tenho em mim, Fernando, todas as culpas do mundo.
E carreguei você também.



12.3.12

lumiar.

Queria ser o sinal de trânsito: resolver quando as pessoas podem ir e quanto tempo têm que ficar. Decidir quando é pra parar ou continuar. Quando é pra esperar, pra acelerar. E ser assim, simplesmente inteligível de vermelho e verde, pisca pra cima, pisca pra baixo e todo mundo entende. Sem entrelinhas de ruído, sem silêncio incompreensivo.

Não que eu queira mandar o tempo todo em carros, velhinhos e bicicletas - ou você - mas quem iria negar ao sinal o direito de se envaidecer? É dessas coisas de encher a cabeça do sujeito. Talvez por isso ele suba nos fios para longe do encontro das esquinas sem falar com ninguém.

Desculpe lá a intromissão, mas é muito solitária mesmo a sua vida, seu semáforo (já posso te chamar de sinal?). Esse reino de gente comandada pela sua vontade não te vê e só te olha, nem pensa em te escutar. Não importa quão alto ou brilhante, é parte do cenário, mescla cinza de paisagem. Depois me escreva suas vantagens de ser invisível. É que estou achando triste mesmo essa vida de silêncio todos os dias, enquanto tudo no mundo passa pra não voltar. E, se volta, é pra não ficar.

Não queria julgar você, de novo, desculpe. Pensando bem, sinaleiro, o senhor é o que está mais certo por aqui: entendeu que a maior parte de tudo é passagem. Isso é sabedoria do bom observador silente que aprende com os caminhos dos outros o que não pôde experimentar.

28.1.12

Considerações de um coração semidesacordado.

Se sua mão não repousa a minha,
Se seu capricho é maior que meu cansaço,
Se o nosso lugar ouvi você chamar de seu,
Se o egoísmo é partícula fundamental,

Se diz e repete que na vida serei sozinha
Se não olha ou sorri nos detalhes que faço
Se não estão no mesmo ritmo os passos,
E os olhos não se encontram mais nos opostos...

E toda essa falta de conclusão é sem motivo,
É metade do que pensa um coração semidesacordado,
Que de tanto espancado, anda a flertar com a solidão.