30.3.11

De balão.

    A primeira parte. Todos os repetidos despertares, maravilhosamente iguais. Os sorrisos dos dentes, água na bochecha, shampoo no cabelo, batom na boca e pé na rua. Isso tudo todo dia, tudo do dia isso mesmo: essa felicidade planejada que dá pontadinhas no pulmão quando a gente respira.
    A segunda parte. Passar o dia enfileirando suas pecinhas de dominó numa cadeia infinita de pensamentos e palavras (atos e omissões por minha culpa? Minha tão grande culpa?). Aprendera há tempos e duras penas que essa era a melhor maneira de ser feliz. Cálculos milimétricos em passos de formiga.
    A terceira parte. A outra parte. É aquela parte que, com o passar do tempo, teima em desequilibrar. Você já enfileirou dominó? Sabe como é, quando uma peça bem pequena pensa em cair? É aí que as outras começam a tremer sozinhas e vão assim, uma a uma, derrubando as vizinhas. E não precisa muito não. É só aquele fio invisível que prende dois olhares na mesma direção se lacear um pouquinho. Basta aquela pilha de palavras não ditas se formando em cima da mesa do jantar. É um segundo. Eu sei disso. Ela sabe.
   A quarta parte. É a parte em que a gente sacode a mesa. E não espera pra ver se o jogo continua de pé. Sacode e sai correndo, porque tem que abrir a janela pra olhar pra fora. Ali fora tem balão. Felicidade que voa de linha cortada ou amarrada, esbarra e flutua por onde der.

   Ali fora tem um balão...

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