17.5.12

São duas da tarde.

São duas da tarde e a morte se sentou ao meu lado.

 Posso sentir sua respiração em meu pescoço, porque o ar é rarefeito. Tenho dois pulmões vazios e um coração inútil agora que a morte está sentada ao meu lado. Tenho fios de lágrimas no lugar de longos cabelos, tenho moedas antigas formando meu diafragma e por isso não respiro, para preservar o passado. Por isso não respiro. Esqueci o movimento meu e os pedestres em volta. As vozes, não as ouço. Não consigo ouvir som que haja agora que a morte está sentada ao meu lado. Tenho arame chiando pelo corpo, tenho ganchos pendurando-me pelas costas no teto, tenho cimento no útero e enxofre na língua, agora que a morte está sentada ao meu lado. Sou cadáver temporário, com a alma espalhada em versos, espalhados em conexões anônimas, esperando que a visita vá embora para voltar sem ameaças.

Agora que a morte está sentada ao meu lado, não tenho medo nem alma.


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