17.5.12

Diário das vísceras.


 Último reporte. Meu estômago acaba de engolir meu coração e agora espuma raivoso o veneno na boca. Contaminado, imundo, rasgado e cicatrizado, e não cicatrizado, musculozinho escroto. Virou-se ao contrário e despeja sangue por todas as partes. A garganta está com medo. Um terror contrai seus lados e tenta conter o caos do lado de dentro. Não é possível vomitar o oceano. Não é possível vomitar o oceano sem morrer afogado na ressaca.

Perdão, era o penúltimo reporte. Agora a cabeça se enche de gás de cozinha e flutua querendo arrancar-se do pescoço, esse único vínculo que a prende ao peito. Cano de esgoto. Tremem os dedos, as pernas, e o peito em grito contido. Urros ecoando entre as orelhas e quadris que deixam de existir no descompasso dos passos. Meus braços perderam os ligamentos ou não me obedecem mais, meus pulsos se romperam sozinhos.

Não é possível vomitar o oceano sem morrer afogado na ressaca. 



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