28.4.16

Da falta.

       Não sinto sua falta. Não lembro com saudade do tempo que já passou. Volta e meia a nostalgia vem tomar café da manhã em minha nova casa, mas ela sabe que é visita. Não é sobre as madrugadas que conversamos. Nenhuma parte de mim quer voltar para aquele tempo e nem saber como poderia ter sido. Mas te sinto na minha falta.
       Te sinto na falta de olhos que me vejam como os seus. Na falta diária que seu peito sentia do meu calor. Na adoração de cada flagrante de toda vez que eu te procurava de longe. Sem ensaio, sem pedido, encontrava seus olhos cravados nos meus com um sorriso que espantava qualquer dúvida. Um orgulho que estava ali por nada, por eu ser, estar e existir. Você me observava de perto, de longe, dormindo, escovando os dentes, passando mal depois de alguma orgia etílica, trabalhando, pregando móveis, pintando quadros, tirando fotos, julgando letras, escolhendo filmes, conversando, partindo, voltando, ficando, respirando. E fazia isso sem descanso, como se eu fosse um filme eternamente bom, todo feito de cenas imperdíveis.
       Aprendi a me entender assim, inundada de amor, nessa neblina do exagero. Flutuei alguns anos e talvez isso tenha entorpecido a derradeira partida. Saí de nós inebriada do que você sentia de mim. Agora é desembaçar o espelho. Hoje tento não me afogar na falta do constante transbordamento. No vazio ou rarefeito. Na falta que a falta faz.

(+and love me for my mind
'cause I'm a dangerous heart)

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